Na primeira semana de setembro, a regional do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em Sorocaba, ganhou uma relíquia. Uma balança de precisão antiga, localizada na subunidade de Iperó, agora pode ser admirada pelo público que visitar a Unidade Técnica Regional de Agricultura (Utra) Ipanema.
O “resgate” foi feito pelo superintendente de Agricultura e Pecuária no Estado, Guilherme Campos, que está visitando as instalações do ministério em São Paulo, a pedido do ministro Carlos Fávaro.
Guilherme disse que a balança chamou sua atenção. “É um instrumento muito bonito e que teve sua importância para as atividades do Mapa em São Paulo. É interessante deixá-lo acessível ao público”, afirmou.
Sabe-se pouco sobre o equipamento. José Carlos Carneiro da Luz, que trabalha há mais de 20 anos em Iperó, disse que a balança servia para medir a umidade de trigo, arroz e outros produtos agrícolas. O servidor Altair de Jesus Lourenço, da Utra Ipanema, conta que começou a trabalhar naquela regional do Mapa em 1980 e naquela época a balança já não era utilizada.
Ele mediu a caixa de madeira e vidro que armazena o instrumento: ela tem 40 cm de altura, 40 cm de largura e 30 cm de profundidade. Não foi possível identificar a marca do fabricante. Mas o modelo tem dois pratos que se equilibram e onde eram depositados os produtos para a medição.
Luiz Chaguri Neto, que foi superintendente do Mapa em São Paulo entre 2006 e 2007, se lembra que em 1976, quando chegou para trabalhar na fazenda Ipanema, a balança de precisão já estava sem uso. “Não temos informações sobre ela, mas pode ser que o uso estivesse relacionado ao milho, já que ali era um centro de produção de milho híbrido”, afirmou.
Modelos semelhantes de balanças de precisão são anunciados em leilões virtuais de antiguidades e em sites de venda de produtos antigos. Os valores variam de R$ 349 a R$ 2.500.
EVOLUÇÃO
Desde a época da balança localizada em Iperó, a agricultura de precisão evoluiu absurdamente no Brasil. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, vinculada ao Mapa, tem uma contribuição relevante nesse avanço tecnológico. O pesquisador Alberto Bernardi, que atua nessa área, disse que nos últimos 50 anos os métodos se modernizaram significativamente.
Ele atua na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), uma das unidades de referência em agricultura e pecuária de precisão no país. “Na época dessa balança, tudo era muito manual, era quase uma alquimia”, brinca, referindo-se aos reagentes que precisavam ser produzidos nos laboratórios de forma quase artesanal.
“Hoje tudo está mais fácil, mais especializado e mais ágil. A balança eletrônica oferece mais acurácia, ou seja, as medições se aproximam mais dos valores verdadeiros”, afirmou. De acordo com o pesquisador, os equipamentos digitais apresentam uma possibilidade de erro menor.
Alberto disse que já tinha visto uma balança semelhante à que está exposta em Sorocaba. Segundo ele, era preciso colocar um contrapeso em um dos pratos e ir adicionando o produto para medição no outro. Na época, esse tipo de balança de precisão era considerada revolucionária.
As pesquisas em agricultura e pecuária de precisão atualmente permitem ganhar em escala e tempo. Ele dá o exemplo da análise de solo. Antes, era preciso coletar amostras de solo e levá-las ao laboratório para se conhecer as propriedades daquele material. Hoje se usa sensores de contato e proximais que emitem feixes de luzes com uma variedade imensa de espectros, de onde é captada a refletância. Traduzindo: a superfície analisada absorve esses espectros de luzes e os dados refletidos são analisados cientificamente.
Além da precisão, acurácia e agilidade, a evolução do método gerou outras vantagens para os laboratórios, que agora não precisam mais gerenciar os resíduos físicos e químicos das amostras coletadas.