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Em um salão decorado com cuidado e memória, no Clube da 3M em Itapetininga, o tempo não parecia marcado pelas horas, mas pelos rostos reencontrados. Entre amigos antigos, familiares de diferentes gerações e ex-colegas de trabalho, Márcia e Moacyr Campos comemoraram seus 50 anos de casamento com uma celebração que foi, principalmente, uma reunião de vidas cruzadas ao longo de cinco décadas.

Márcia e Moacyr Campos celebram 50 anos de união (arquivo pessoal)
Márcia e Moacyr Campos celebram 50 anos de união (arquivo pessoal)

A escolha do local para a festa carrega em si um gesto simbólico: foi ali, no clube da 3M, que Moacyr atuou como presidente por cinco anos, liderando eventos, festas, projetos e — talvez o mais notável — a construção da lanchonete que seria batizada, informalmente, como “Bar do Moa”. O nome não foi atribuído por acaso. “A engenharia disse que a obra ia custar 450 mil. A 3M só liberou 300. Prometi que faria com esse valor. Ninguém acreditou muito, mas fiz. E ficou pronto”, relata Moacyr com a sobriedade de quem nunca confundiu façanha com vaidade.

A escolha por celebrar ali suas bodas de ouro foi tanto afetiva quanto prática. Como ex-funcionário aposentado, Moacyr teve acesso ao espaço. “A Márcia achou melhor fazer aqui mesmo. Havíamos cogitado Campinas, mas faria mais sentido ser aqui, onde estão as marcas mais recentes da nossa história.”

O “Bar do Moa”, que servira a tantos eventos da empresa ao longo dos anos, passou por uma transformação completa. O que mais transformou o ambiente, no entanto, não foram os tecidos ou os arranjos de flores, mas as histórias reencontradas em cada mesa ocupada.

Márcia e Moacyr Campos celebram 50 anos de união (arquivo pessoal)
Márcia e Moacyr Campos celebram 50 anos de união (arquivo pessoal)

Início em Taubaté: juventude, amizade e um romance por aproximação

A narrativa do casal tem início em Taubaté, cidade universitária do interior paulista que, nos anos 1970, fervilhava com jovens vindos de diversas regiões do estado, atraídos pelos cursos de engenharia e medicina. As lanchonetes, boates e cinemas se tornaram o palco informal de encontros, onde amizades nasciam ao acaso e alguns romances, à segunda vista.

“Taubaté era uma cidade pequena, como Itapetininga é hoje. Os universitários iam às lanchonetes, que eram pontos de encontro. Em uma dessas, conheci uma turma. Uma das meninas me convidou para a casa dela no dia seguinte, e lá conheci a Márcia”, lembra Moacyr.

Márcia, por sua vez, recorda o início com clareza: “No começo, éramos só amigos. Ele era uma pessoa com quem eu gostava de conversar. Nada de paixão fulminante. Foi acontecendo.” Havia, entre eles, uma frequência constante: conversas na porta de casa, risos discretos, cumplicidade silenciosa. “Ele passava na minha casa porque era caminho da república onde morava. Ficava ali, a gente conversava por horas.”

A transição da amizade para o namoro ocorreu em um baile de calouros da faculdade de engenharia. Não haviam combinado de ir juntos, mas o reencontro foi decisivo. “Conversamos, dançamos quase a noite toda. Ali percebemos que havia algo diferente.”

Entre os episódios marcantes daquela fase, há um que permanece na memória de ambos — e da família. “Logo depois que começamos a namorar, ele voltou de Campinas e deixou uma flor na minha porta de madrugada. Meu pai chegou mais tarde, viu a flor e achou que era macumba. Chutou a flor. Só depois percebeu que havia um bilhetinho com meu nome”, conta Márcia, entre risos contidos.

Márcia e Moacyr Campos celebram 50 anos de união (arquivo pessoal)
Márcia e Moacyr Campos celebram 50 anos de união (arquivo pessoal)

Pedido formal, catedral histórica e um coquetel ao estilo dos anos 70

O namoro durou três anos. Veio o noivado, com direito a visita formal dos pais de Moacyr a Taubaté. “Naquela época, ainda se fazia o pedido oficial. Tentei durante o almoço, depois no jantar. Demorou, mas deu certo”, relembra Moacyr.

O casamento foi celebrado na Catedral de São Francisco, igreja histórica da cidade, escolhida não por conveniência, mas por afeto. “Sempre gostei da catedral, desde jovem. Era o único lugar possível para mim”, diz Márcia.

A festa seguiu o modelo da época: um coquetel no clube de campo, espaço em ascensão para recepções. “Jantar era coisa para quem tinha muito dinheiro. Mas conseguimos fazer do nosso jeito. Fomos de mesa em mesa, conversamos com todos os convidados”, contam. O clima era de verão, com noite quente e presença de amigos da faculdade, da família, dos primeiros anos do casal.

Márcia e Moacyr Campos celebram 50 anos de união (arquivo pessoal)
Márcia e Moacyr Campos celebram 50 anos de união (arquivo pessoal)

Campinas: crescimento profissional, filhos e rotina urbana

Após o casamento, o casal mudou-se para Campinas, cidade natal de Moacyr. Lá, iniciou-se uma nova fase da vida: a construção familiar. A mudança foi motivada pela instabilidade do emprego na Ford. “Fiz teste na GE, Bosch e 3M. Passei nas três. Escolhi a 3M por ser americana. Parecia mais estável”, explica.

Márcia, não campineira, adaptou-se a uma cidade maior com demandas logísticas e familiares crescentes. “Morávamos em bairro afastado. Eu levava e buscava as crianças na escola. Virou minha rotina.”

Durante 19 anos, viveram sob o ritmo de uma cidade em crescimento, mas encontraram no clube um espaço de respiro. “Todo dia, após a escola, íamos à Sociedade Hípica. Ficávamos até as nove da noite. Era parte da nossa casa”, afirmam.

Márcia e Moacyr Campos celebram 50 anos de união (arquivo pessoal)
Márcia e Moacyr Campos celebram 50 anos de união (arquivo pessoal)

Itapetininga: entre raízes e reinvenções

Quando a 3M iniciou a construção de uma nova unidade em Itapetininga, Moacyr foi envolvido na fase de montagem. O convite para transferência veio com naturalidade. “Conversei com a Márcia e com os filhos. Todos toparam. E não me arrependo.”

A cidade, de custo mais acessível, ofereceu também novas possibilidades. “Aqui consegui comprar uma casa. Para mim, isso foi decisivo.”

Itapetininga tornou-se, desde então, a base definitiva do casal. Os filhos cresceram, a casa se firmou, o vínculo com a comunidade se ampliou, principalmente por meio do clube da 3M. Como presidente, Moacyr liderou projetos, festas, campeonatos e ações de integração. O Bar do Moa permanece como testemunho concreto de sua passagem.

Márcia e Moacyr Campos celebram 50 anos de união (arquivo pessoal)
Márcia e Moacyr Campos celebram 50 anos de união (arquivo pessoal)

A festa: tempo suspenso e presenças essenciais

A celebração das bodas de ouro foi menos uma cerimônia formal e mais um reencontro com os rastros do tempo. O número de convidados foi menor do que o previsto, mas a qualidade das presenças falou mais alto. “Muita gente é de fora. Mas quem veio, era quem a gente mais queria”, resumem.

Mais do que fotos ou registros, o que permaneceu foi o sentimento de realização. “Hoje, nem todo mundo chega a 50 anos de casamento. Se conseguimos, tínhamos que comemorar. Era meu pensamento”, diz Moacyr.

Márcia encerra com uma frase que sintetiza o que o tempo não muda: “O que vale é o amor. E a gente se dá bem.”

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