Por alguns anos, a letra cursiva ficou nos bastidores da fase de alfabetização. Havia quem fosse totalmente contra (muitos, por sinal) e a pequena minoria a favor. Diga-se de passagem que a letra cursiva é trabalhosa de ensinar, ainda mais quando a escola não trabalha com a coordenação motora fina como deveria.

Eis o ponto onde quero chegar… só para começar! A coordenação motora fina é pouquíssimo trabalhada e ficou quase esquecida durante pelo menos uma década – e até um pouquinho mais. Como ensinar alguém que não tem a destreza necessária para utilizar letra cursiva, a fazer letra cursiva? O desafio era gigantesco, por isso, durante este “limbo” educacional esta letra era considerada até obsoleta.

Muitos ainda são contra, afinal de contas, “depois que fica adulto, nem usa mais essa letra” ou “dá muito trabalho e hoje com a tecnologia não tem necessidade de usar” ou “jornais, revistas, sites usam letra imprensa, então por qual motivo devo ensinar a cursiva?”.

Estas são algumas das observações feitas por quem não utiliza ou é contra o uso desta forma de escrita, mas analise bem os argumentos e me diga qual deles falou, em algum momento, do desenvolvimento da aprendizagem… Pois é, note que nenhum deles. São até, de certa forma, negativistas.

A razão deste artigo é explicar alguns fatores que SIM, são fundamentados e têm explicação, para justificar por qual motivo ela está voltando às escolas. A partir deste momento, se mostre mais aberto, pelo menos para o que está por vir! Afinal de contas, minha meta é comprovar que os benefícios para seu uso justificam sua volta, e posso falar com vontade sobre o assunto, porque mesmo durante o “limbo” da cursiva, fiz questão de ensiná-la a todas as minhas turmas de alfabetização!

Mesmo no tempo em que vivemos, de e-mails, mensagens de voz e tweets, é imprescindível que o aluno também tenha contato com as ideias que são colocadas no papel, em letra cursiva. O ato de escrever neste tipo de letra estimula o desenvolvimento de áreas no cérebro responsáveis pelo pensamento, pela linguagem e, mais importante ainda, memória de trabalho.

O ato de escrever fisicamente em cursiva aumenta a compreensão e participação do aluno em relação aos textos que lê e escreve. O fato de a letra cursiva ter detalhes como segmentação clara entre as palavras, uso de letras maiúsculas e minúsculas, delonga no movimento, por ter maiores detalhes do seu design, criam uma interação que ainda não é possível quando utilizada a letra bastão ou a letra imprensa, ou até mesmo quando usamos de recursos como digitar. O resultado não é o mesmo.

A maior prova de que a cursiva pode fazer a diferença, tornando o ensino melhor e a aprendizagem mais efetiva são os resultados de exames de avaliação, como o PISA, por exemplo, que comprovam como houve piora no item “interpretação de textos” em nossos alunos e o panorama deste fato é bastante generalizado, com poucas exceções.

Não há problema que mais tarde o aluno abandone o uso da cursiva! O importante é que ele tenha acesso a ela na idade adequada, que é a faixa de alfabetização.

Um outro mito que foi criado durante o “limbo” da cursiva era em relação à alfabetização. Se o aluno não era alfabetizado, não deveria usar. Digo mito, porque mesmo antes da alfabetização, se o aluno não atribui significado ainda às letras, não há problema o treino do desenho, pois ele será já preparatório para quando o aluno tiver o conhecimento necessário para sua identificação.

A cursiva, em resumo, é vital para auxiliar o aluno na criação de novas conexões de interpretação em seu cérebro, novas sinapses. Ajuda na expressão escrita, pensamento crítico e suas habilidades vão muito além do que curvas num papel, serão usadas na vida além da aula.

Sobre a autora: designer de atividades pedagógicas, Janaína Spolidorio é formada em Letras, com pós-graduação em consciência fonológica e tecnologias aplicadas à educação e MBA em Marketing Digital. Ela atua no segmento educacional há mais de 20 anos e atualmente desenvolve materiais pedagógicos digitais que complementam o ensino dos professores em sala de aula, proporcionando uma melhor aprendizagem por parte dos alunos e atua como influenciadora digital na formação dos profissionais ligados à área de educação.

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