O queijo porungo produzido pela Família Nanico, em Angatuba, a 46 km de Itapetininga, alcançou reconhecimento internacional ao conquistar a medalha de ouro no Mundial do Queijo do Brasil 2024. Desenvolvido ao longo de mais de 50 anos com leite de vaca cru e utilizando a técnica artesanal de massa filada, o produto destacou-se entre mais de 2.000 concorrentes. O título conquistado reafirma a importância da produção tradicional paulista e do papel da agricultura familiar como guardiã de práticas que conectam história, cultura e sustentabilidade no campo.

Queijo porungo Família Nanico ganou medalha de ouro no Mundial de Queijos Brasil 2024 - Divulgação
Queijo porungo Família Nanico ganou medalha de ouro no Mundial de Queijos Brasil 2024 – Divulgação

A conquista não alterou os processos de fabricação do porungo, que seguem manuais e em pequena escala. A produção diária é limitada a 36 queijos, cada um utilizando cerca de nove litros de leite. As peças são vendidas localmente, sem ajustes no preço, atualmente fixado em R$ 45,00 por quilo.

“Eu não imaginava que o nosso queijo de família ganharia esse prêmio. Foi uma surpresa que trouxe reconhecimento de que fazemos um produto de qualidade. É um sentimento muito bom e queremos que esse prêmio sirva de inspiração para outras famílias de pequenos produtores continuarem em suas terras produzindo alimentos”, explica Jolice Antunes de Toledo Cardoso, que conduz a produção no Sítio Rainha da Paz ao lado do marido, Adnilson Lucio Cardoso, e do filho, Denner Henrique Cardoso.

A Família Nanico afirma ter capacidade técnica para aumentar a produção, mas prefere manter o caráter familiar do negócio. “Graças às melhorias implantadas pelo pessoal da CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral) na nossa propriedade, a produção de leite aumentou bastante. Como não damos conta de fazer queijo de todo o leite, o excedente fornecemos para um laticínio. Para ampliar a produção, precisaríamos de mão de obra de fora, mas queremos que esse negócio fique em família, como era na época dos meus avós”, detalha Jolice.

Como é produzido

O nome do queijo, “Família Nanico”, é uma homenagem ao pai de Jolice, José, conhecido como Nanico. “Embora quem sempre tirasse o leite e fizesse o queijo fosse minha mãe, o queijo ficou conhecido como do ‘Nanico’. Quando estávamos no processo para obter o selo de inspeção municipal aqui de Angatuba, seguimos com o nome ‘Família Nanico’, que está no rótulo do nosso queijo”, relata.

O processo de produção mantém viva a tradição familiar. O leite coalhado é trabalhado manualmente em água quente, sendo dobrado e esticado até atingir a textura ideal. O formato final, que lembra a porunga (fruto da Lagenaria siceraria), é uma característica distintiva do produto.

“Antigamente não tínhamos energia elétrica. Então não havia geladeira. O queijo era pendurado pelo pescocinho para ventilar e, assim, durar mais tempo”, lembra Jolice.

Sua filha, engenheira de alimentos formada pela UFSCar, pesquisou a durabilidade do produto e concluiu que o queijo pode permanecer até 40 dias em prateleira, apesar de o rótulo informar 15 dias.

Jolice, que está à frente do quejo porungo, entre o filho e o marido - Divulgação
Jolice, que está à frente do quejo porungo, entre o filho e o marido – Divulgação

Apoio técnico e sustentabilidade no campo

Parte do sucesso do queijo porungo deve-se ao acompanhamento técnico oferecido pela CATI Regional de Itapetininga desde 2023. O trabalho incluiu análises de solo, recuperação de pastagens degradadas e melhorias na alimentação do rebanho. “Começamos pela coleta e análises de solo da propriedade, seguindo para a recuperação de um pasto rotacionado de capim mombaça e a recomendação de plantio e adubação do milho para ensilagem. São ações para produzir alimentos de qualidade para o rebanho durante todo o ano”, explica Ana Paula Roque, zootecnista da CATI e Líder do Grupo Técnico de Pecuária Leiteira do Estado de São Paulo.

Ana Paula também incentivou Jolice a participar do Mundial do Queijo. Representando a família no evento, destacou a singularidade do porungo e acompanhou a aplicação de recursos do FEAP Pagamento por Serviços Ambientais – Berços D’Água, que viabilizou a recuperação de áreas improdutivas na propriedade. “Após a premiação, seguimos com ajustes no planejamento da alimentação para aumentar a produção de leite”, acrescenta.

O veterinário Marcelo Ament Giuliani dos Santos também desempenhou um papel essencial na melhoria do manejo reprodutivo das vacas. “Ele nos dá assistência técnica relativa à reprodução das vacas, inclusive fazendo a ultrassonografia dos animais e nos repassando todas as orientações necessárias, principalmente a meu filho que, inclusive, já fez curso e já aprendeu a inseminar as vacas”, comenta Jolice.

Com essas ações, a produção de leite na propriedade dobrou. “Leite de qualidade, produzido com boas práticas de higiene de ordenha, respeito ao bem-estar animal e ao consumidor dos queijos deliciosos que a Família Nanico produz”, ressalta Ana Paula.

Família de Jolice na pastagem renovada com a ajuda dos assistentes agropecuários - Divulgação
Família de Jolice na pastagem renovada com a ajuda dos assistentes agropecuários – Divulgação

O papel da agricultura familiar e o futuro do porungo

A medalha de ouro obtida pelo queijo porungo representa mais do que reconhecimento da qualidade do produto; é um incentivo à agricultura familiar e às práticas sustentáveis. Além de resgatar tradições, o sucesso do porungo reflete a relevância de políticas públicas de apoio ao campo.

“Eu não sabia quanto ganhava com os queijos, qual era o custo. Com a orientação da CATI, agora tudo é planilhado e planejado”, afirma Jolice, destacando a importância da gestão profissional no crescimento sustentável do negócio.

A Família Nanico planeja manter a produção artesanal e ensinar a técnica para outros pequenos produtores interessados, fortalecendo a identidade da região sudoeste de São Paulo.

Nosso objetivo não é fazer mais e mais queijos para ganhar mais e mais dinheiro. Mas é ensinar a técnica do nosso queijo a produtores de leite interessados e tornar a região sudoeste de São Paulo reconhecida”, conclui Jolice.

Mais sobre o queijo porungo Família Naanico: @jolicecardoso

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