A Academia Americana de Pediatria (AAP), em 2018, publicou diretrizes para investigação de depressão em crianças a partir dos 12 anos. Em uma entrevista, a ex-presidente da AAP afirmou acreditar que as mídias sociais desempenham um papel no crescimento das taxas de suicídio entre garotas adolescentes. Na Inglaterra, o governo tem considerado colocar restrições de acesso às mídias sociais para proteger crianças e adolescentes.
O surgimento e o aumento do uso das redes sociais teve, em paralelo, um declínio global da saúde mental e um estudo recente mostrou o aparecimento de picos de transtornos do humor e suicídio entre adolescentes e adultos jovens neste mesmo período.
Apesar de estes dois eventos terem acontecido independentes, pesquisadores tem se questionado, por anos, se mídia social e depressão/suicídio não estariam relacionadas; e recentemente um estudo epidemiológico em larga escala juntou pistas de como as mídias sociais podem afetar nossos jovens.
Em 2018, o pesquisador Primack e seu colegas estudaram 1730 jovens adultos (entre 19 e 32 anos) que foram separados em cinco grupos de acordo com o tipo de uso que faziam das redes sociais (dos “usuários pesados” aos que não usavam nada ). Os pesquisadores, em seguida, analisaram sintomas de depressão e ansiedade nestes usuários. Eles esperavam descobrir taxas mais altas de doenças mentais nos que não usavam as redes sociais (porque eles não tinham oportunidades de interações sociais) e também nos “usuários pesados” (porque estavam se privando de relações interpessoais no mundo real). Ao invés disso, o que foi observado foi que quanto mais os participantes estavam envolvidos nas redes sociais, maior o risco de depressão e ansiedade. Verificou-se, portanto uma relação direta entre horas de uso e taxas de doenças como depressão e ansiedade. Primack concluiu que o menor risco está associado ao menor uso (ou uso nenhum) das mídias sociais. Descobriram também associações entre o aumento do uso das redes sociais e aumento do isolamento, dos transtornos de sono e alimentares.
Esses resultados estão alinhados com outra análise realizada com 220.000 adolescentes em dois diferentes países. O estudo agrupou mídias sociais e outras mídias digitais como videogames e uso de smartphones. Descobriram que os usuários de grande volume (mais de 5 horas/dia) tem de 48% a 171% maior probabilidade de se considerarem infelizes, depressivos e apresentarem comportamentos suicidas que os usuários de pequeno volume (menos de 1 h/dia).
Apesar de que esse crescente número de evidências se mostre muito chocante, existem dificuldades em se estabelecer a real causa-efeito porque cerca de 3.5 bilhões de pessoas usam essa tecnologia ativamente e as variáveis a serem consideradas são inúmeras.
Outros pesquisadores da área acreditam que seja mais adequado considerar como essas pessoas estão usando estas plataformas do que com que frequência. A pesquisa de Primack indica que o uso passivo das redes sociais está mais relacionado a altas taxas de depressão que o uso ativo (por exemplo, criando blogs, páginas pessoais ou se conectando diretamente com seus amigos)
Além destas descobertas, eles descobriram uma ligação direta entre o numero de plataformas usadas e o risco para depressão e ansiedade, sendo maior naquelas que utilizam maior número de plataformas.
De modo inverso, alguns dados sugerem que as redes sociais possam ser fatores de proteção para muitos. Isso quando o uso das redes sociais funciona como redes sociais de apoio e crescem para ajudar algum grupo (como pessoas deficientes ou com transtornos mentais). Verifica-se que esta rede pode aumentar a autoestima e estimular a melhora dos hábitos de saúde (melhorar alimentação e parar de fumar), sendo dessa forma, fator de proteção para o usuário.
Concluímos, portanto, que já existem estudos que comprovam a relação entre uso de redes sociais e sintomas depressivos e ansiosos. Muitas pesquisas precisam ainda acontecer para desvendarmos melhor essa relação. Enquanto isso, medidas educacionais precisam ser implantadas e ter um olhar cuidadoso sobre os jovens, principalmente aqueles com alterações de comportamento e isolamento social.
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