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No ambiente familiar, entre colegas de trabalho ou em grupos de redes sociais, é cada vez mais comum o convívio com pessoas que compartilham ou defendem informações falsas. A disseminação de fake news se intensificou com o uso massivo das plataformas digitais, criando desafios para quem busca preservar relações sem abrir mão da veracidade dos fatos.

Como conviver com pessoas que acreditam frequentemente em 'fake news' - Ilustração
Como conviver com pessoas que acreditam frequentemente em ‘fake news’ – Ilustração

Usualmente se recomenda cautela na abordagem, evitando confrontos diretos. Em vez de partir para o embate, uma alternativa mais efetiva é compreender o contexto emocional e social que leva alguém a acreditar em desinformações.

Entre os fatores que favorecem a adesão a conteúdos falsos estão o medo, a solidão, a baixa familiaridade com ferramentas de checagem e a tendência de confirmar crenças já existentes. Reconhecer esses elementos não significa concordar com as fake news, mas pode ajudar a adotar uma postura mais estratégica no diálogo.

Escolher o momento e o contexto para intervir também faz diferença. Nem toda situação exige resposta imediata. Avaliar se a informação falsa tem impacto direto na vida de alguém, como em temas de saúde pública, campanhas de vacinação ou processos eleitorais, pode orientar sobre quando vale insistir na correção e quando é preferível recuar para preservar a convivência.

Na conversa, o ideal é evitar acusações e focar em perguntas que incentivem o pensamento crítico. Evitar confrontos diretos nem sempre garante que a outra pessoa mudará de ideia, mas pode impedir o agravamento de tensões. Em vez de correções imediatas, é possível adotar uma postura mais amena, propondo pequenas pausas para reflexão. Perguntas com tom neutro, como “onde você encontrou essa informação?” ou “você costuma confiar nesse canal?”, podem ser menos invasivas e abrir espaço para que a pessoa reavalie a própria fonte.

Ainda que nem sempre surtam efeito, esses gestos criam condições para um diálogo mais respeitoso. Em algumas situações, vale compartilhar como se costuma checar uma informação, mencionando fontes verificáveis ou sites de agências de checagem, sem impor esse hábito. O objetivo não é convencer imediatamente, mas apresentar outro caminho possível para lidar com a avalanche de conteúdos duvidosos.

O uso de links deve ser feito com cuidado. Em grupos de mensagens, por exemplo, pode ser mais eficiente compartilhar uma verificação com comentários neutros, como “Esse assunto está circulando bastante, mas estou em dúvida… já caí em umas antes” ou“Fui dar uma olhada no Google porque essa informação me deixou preocupado. Tem coias que parecem criadas mais para bagunçar o jogo político do que para aplicarmos na vida real”, em vez de impor a correção.

Para além da conversa, é legítimo estabelecer limites. Silenciar grupos, sair de espaços com excesso de desinformação ou propor que certos assuntos fiquem fora das interações são formas de preservar o próprio bem-estar. No caso de familiares ou pessoas com quem há vínculos afetivos fortes, pode ser mais efetivo falar a partir da preocupação pessoal, e não da acusação. Frases como “fico preocupado quando você compartilha esse tipo de conteúdo” podem gerar mais abertura do que apontamentos diretos.

Ainda assim, é possível que a pessoa não mude de opinião. Nesses casos, cabe decidir até que ponto vale insistir ou se é melhor priorizar a preservação do vínculo sem entrar em determinados assuntos.


8 atitudes que ajudam no convívio com a desinformação

1. Entender o terreno (sem concordar)

  • Ninguém muda de ideia porque foi chamado de burro ou desinformado. Quando a pessoa se sente atacada, ela se agarra ainda mais às fake news.

  • Muita gente cai em desinformação por medo, solidão, falta de repertório midiático ou porque aquilo confirma algo em que já quer acreditar.

Você não precisa concordar, mas entender isso ajuda a tirar um pouco da raiva e entrar em modo “estratégia”, não em modo “briga”.

2. Escolher as suas batalhas

  • Pergunte-se: vale mesmo a pena discutir isso com essa pessoa, hoje, neste contexto?

  • Às vezes é melhor deixar passar uma fake news absurda do que entrar em guerra num almoço de família ou grupo de trabalho.

  • Pense no impacto: isso afeta a vida de alguém diretamente (vacina, eleição, saúde)? Se sim, talvez valha intervir; se não, você pode simplesmente não comprar a briga.

3. Como conversar sem virar briga

Em vez de já mandar um link de checagem na cabeça da pessoa, tente:

  • Fazer perguntas:

    • “De onde veio essa informação?”

    • “Você confia nesse site/canal? O que te faz confiar?”

    • “Você viu isso em mais de um lugar ou só nesse vídeo?”

  • Focar na ideia, não na pessoa:

    • Evite: “isso é uma idiotice”.

    • Prefira: “esse dado me chamou atenção, porque vi outra coisa bem diferente…”

  • Buscar pontos em comum:

    • “A gente quer a mesma coisa: ficar bem, ter segurança, não ser enganado. Por isso eu costumo checar em mais de uma fonte.”

O objetivo não é ganhar debate; é plantar uma dúvida na segurança daquela fake news.

4. Mostrar como você checa as coisas

Em vez de dizer “isso é fake”, você pode mostrar o caminho:

  • “Quando eu recebo algo assim, eu costumo:”

    • Ver se algum site de checagem;

    • Ver data (muitas fake news reciclam notícia antiga como se fosse de hoje).

    • Olhar se o site é estranho, sem contato, cheio de anúncio agressivo.

    • Ver quem se beneficia se aquilo for acreditado.

Você ensina um “modo de pensar” sem dar sermão.

5. Usar links com cuidado

  • Mandar link de checagem em grupo de WhatsApp às vezes ajuda; outras vezes só acirra clima.

  • Uma saída é mandar algo como:

    • “Gente, me mandaram uma checagem sobre esse assunto, para quem quiser ver depois.”

Isso evita o tom de “eu sou o dono da verdade”. Quem estiver mais aberto, clica.

6. Colocar limites claros

Você tem direito a se proteger da sobrecarga de desinformação.

  • Em grupos:

    • Silenciar grupo.

    • Sair se o clima for tóxico demais.

    • Avisar antes: “Gente, tô saindo porque esse tipo de conteúdo me faz mal. Se precisarem de algo sério, me chamem no privado.”

  • Na convivência presencial:

    • Mudar de assunto: “Prefiro não entrar nisso agora, vamos falar de outra coisa.”

    • Propor “acordo de paz”: “A gente não vai concordar. Que tal combinarmos de não falar de política/fakenews quando estivermos juntos?”

Limite não é falta de amor; é cuidado com você.

7. Quando é alguém muito próximo

Com pai, mãe, parceiro, familiares, a coisa pega mais fundo. Algumas ideias:

  • Conectar com a história da própria pessoa:

    • “Você sempre me ensinou a desconfiar de gente mal-intencionada. Por isso, quando vejo esse tipo de mensagem, prefiro checar duas vezes…”

  • Falar a partir do sentimento, não da acusação:

    • “Quando você compartilha essas coisas, eu fico preocupado com você ser enganado, e isso me dói, porque eu te amo.”

  • Aceitar o limite:

    • Pode ser que a pessoa não mude nunca. Você pode escolher continuar amando, mas não entrando mais em discussão sobre certos temas.

8. Cuidar de você

Conviver com gente imersa em fake news cansa. Então:

  • Diminua a exposição: não abra tudo que mandam, não responda tudo.

  • Se precisar, desabafe com quem pensa parecido (amigos, terapia, grupos de apoio).

  • Lembre: você não é responsável por salvar todo mundo. Fazer um pouco, quando dá, já é muito.

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