Este novo som da Karina Buhr, seu quarto álbum, apresenta dois vértices que se cruzam bem no centro cardíaco: corte e delicadeza. Por um lado uma lâmina de aço denso com sua têmpera curtida pelo mar salgado de Salvador e do Recife e, por outro lado, uma brisa temperada e lenta, de delicadezas drásticas, de quem mesmo sem guia, segue.

Desmanche: ato ou efeito de desmontar, de desmantelar mecanismos, engenhos ou máquinas.

Num país onde tudo é desmanchado e desmontado monstruosamente: arte, natureza, cultura e ética, esse som vem ao mesmo tempo como um alerta e um alento. “Estamos oferecendo um exército que atravessa tudo” ao mesmo tempo em que o “céu floresce de estrelas”. Neste tempo louco, neste século, onde operamos entre o desmanche total e a insurreição das estrelas, como ver e vender a coragem? Você está bem?/ Devo de estar.”

A voz da Karina corta forte e delicada a carne e seus veios por dentro e, segue como uma quilha cortando certeira a bateria de ondas. Não se distrai, não seduz com arabescos e excessos, porque é precisa demais pra isso. É um canto da dicção da chama, do chamado: “vermelho, roxo e fogo”.

E tudo tem pele: tambor, ganzá, alfaia, congas, xequerê. O mais profundo é a pele (Valery já deu esse recado) e aqui a epiderme está exposta ao sal da vida: “Seresta, dança e baile/ não faz quem não acredita”.

Karina não dá sossego, não repousa no fácil, no romance que está à venda no mercado. E aponta: “É mentira o que dizem nos filmes de amor”. Seremos mais humanos nessa era de pós-mentira, pós-terror, pós-pornô? A casa caiu! Nesse som não há respostas, mas riscos, gumes e feixes de provocações. Estados de alarme e atenção: “As pessoas mesmas/ que somos nós/ que apontamos dedos/ uns pros outros”.

Ah, e tem ao mesmo tempo, o tempo dos peixes tranquilos, com um mapa que está no chão e na egrégora do coração. Quem sabe Oxum sabe de si.

Vamos ouvir esse som porque ele vem para partir, marcar, riscar, desmontar. Vamos deixar que essa onda bata tanto na pedra que o recife desmanche-se em mil grãos de cantigas de amor e revolução!
(Por Natalia Barros – Julho 2019)

“Desmanche explora tanto o caos que estamos todos vivendo no mundo – de esgotamento de recursos naturais e de velhas ideias – como a calma em que às vezes nos recolhemos e muito por elas também sobrevivemos”, pontua Karina Buhr.
Assista ao clipe “Sangue Frio”:
https://www.youtube.com/watch?v=ngiXtF5OmTA

Escute Desmanche em sua plataforma favorita:
https://ditto.fm/karinabuhrdesmanche

DESMANCHE – Ficha Técnica
Produção Musical: Karina Buhr e Regis Damasceno
Arranjos: Karina Buhr, Regis Damasceno e Maurício Badé
Mixagem: Bernardo Pacheco, na Fábrica de Sonhos
Masterização: Felipe Tichauer
Design gráfico: Camila Fudissaku
Fotos: Priscilla Buhr e Hélia Scheppa
Comunicação Digital e Imprensa:Tropi.Press
Produção executiva: Karina Buhr e Máquina Produções Artísticas

Letras e músicas: compostas por Karina Buhr, exceto na canção “Filme de Terror” que tem a parceria de Max B. O.

Participações nas músicas: Regis Damasceno, Sthe Araújo, mestre Nico, Neo Muyanga, Lenis Rino, Maurício Badé, Victor Vieira Branco, Max B. O., Bernardo Pacheco e Isaar.

Gravado em maio de 2019 no Estúdio Navegantes por Lenis Rino. Faixa “Sangue Frio” gravada por Zé Nigro no Estúdio Navegantes

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